Sábado, 30 de Janeiro de 2010

Smith

Smith estava já no seu interior há alguns segundos e só agora ela soltava um ligeiro gemido de prazer. O calor era duplo e as peles baralhavam-se com os lençóis já amarelecidos. Smith era pouco aplicado no que diz respeito a fazer a cama de lavado.

Passado outros poucos segundos Smith começou a sorrir e quando a respiração se suspendeu, ejaculou precocemente. Acalmou-se, saiu do corpo dela e deitou-se lentamente no seu lado da cama, de costas voltadas. Ela olhou para ele atónita, claramente insatisfeita, disse um tímido "Smith..." do qual não obteve resposta. Rapidamente vestiu as roupas e saiu de rompante deixando a porta bater atrás de si. Smith sorriu novamente, verdadeiramente feliz. Em seguida adormeceu.

Smith passara o dia inteiro com dores de cabeça.

 

publicado por swashbuckler às 16:04
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Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2010

Radiohead - Bodysnatchers

 

 

publicado por swashbuckler às 18:43
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O actor

"O actor reina no domínio do mortal. De todas as glórias, a sua é, como se sabe, a mais efémera. Isto diz-se, pelo menos, em conversa. Mas todas as glórias são efémeras. Do ponto de vista de Sirius, as obras de Goethe serão pó daqui a dez mil anos e o seu nome estará esquecido. Alguns arqueólogos, procurarão talvez "testemunhos" da nossa época. Esta ideia foi sempre boa conselheira. Bem meditada, reduz as nossas agitações à nobreza profunda que se encontra na indiferença. Dirige sobretudo as nossas preocupações para o mais seguro, quer dizer, para o imediato. De todas as glórias, a menos enganadora é a que se vive.

O actor escolheu, pois, a glória inumerável, a que se consagra e que se experimenta. De que tudo deve morrer um dia, é ele quem tira a melhor conclusão. Um actor triunfa ou não triunfa. Um escritor tem uma esperança, mesmo que seja ignorado. Supõe que as suas obras testemunharão o que ele foi. O actor deixar-nos-á, quando muito, uma fotografia, e nada do que ele foi, os seus gestos e os seus silêncios, a sua respiração curta ou o seu arfar no amor, nada disso virá até nós. Para ele, não ser conhecido é não representar, e não representar é morrer cem vezes, como todos os seres que ele teria animado ou ressuscitado."

 

"Basta um pouco de imaginação para se sentir o que significa um destino de actor. É no tempo que ele compõe e enumera as suas personagens. É no tempo, também, que ele aprende a dominá-las. Quanto mais vidas diferentes viveu, melhor se separa delas. Vem o tempo em que é necessário morrer em palco e para o mundo. O que ele viveu está na sua frente. Por isso, ele vê claro. Sente o que essa aventura tem de desgarrador e de insubstituível. Ele sabe, e agora pode morrer. Há casas de retiro para velhos comediantes."

 

Albert Camus, in "O Mito de Sísifo"

publicado por swashbuckler às 16:17
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Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010

Smith

Quando entrou no 3º andar do prédio viu que algo de estranho acontecera. A porta do apartamento do seu pai estava entreaberta. O corpo do pai de Smith estava vertido no tapete da entrada. Tinha os olhos ainda abertos a verem coisa nenhuma. Smith estancou à ombreira da porta, fundia-se com o escuro do corredor que entretanto se escurecera. Só sombras e um corpo hirto, de "rigor mortis" já bastante vincado, pele esquálida e fria. Smith baixou-se, tocou na testa do pai, fechou-lhes os olhos e passou a mão pela barba rala e mal feita, depois sentou-se na cadeira vermelha que servia para sentar quando se falava ao telefone. Sentou-se e ligou para o número de emergências. Foi a última conversa na vida daquele telefone, com o pai de Smith morria também o telefone do pai de Smith e o apartamento do pai de Smith. Quando morremos as nossas coisas morrem connosco porque deixam de ser as nossas coisas.

publicado por swashbuckler às 02:29
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Segunda-feira, 25 de Janeiro de 2010

Smith

Smith gostava de coisas simples e quotidianas. Torradas ligeiramente queimadas, o sabor da manteiga misturado com o pão em cinza era estranho e portanto agradável. O barulho crepitante de uma lareira. Acompanhar talk-shows na televisão, mas aqueles com conteúdo, os simplesmente parvos faziam-lhe urticária cerebral. O sol que de manhã batia na sua cama estrategicamente colocada junto da janela. Ouvir uma canção triste antes de adormecer para que os sonhos não fossem surpreendentemente agradáveis, assim a parte boa de viver só aparecia quando Smith estivesse completamente acordado.

E sempre mas sempre, tirar os sapatos de camurça ao chegar a casa.

publicado por swashbuckler às 17:51
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Horóscopo de 25 a 31 de Janeiro

Saúde: vem aí uma acalmia de trabalho depois de um final de mês sobrecarregado de forma inesperada. Aproveite para passear ao sol, se ele brilhar, e para dar umas voltas à noite, os excessos controlados também fazem bem à saúde, se não à física pelo menos à psicológica!

 

Dinheiro: uma maravilha! Mas o automóvel continua a dar chatices...

 

Amor: já sabe que as asneiras costumam estar na ponta dos seus dedos, se se mantive-se quietinho com as falanges era capaz de ter mais sorte! Agora olhe, aguente-se à bomboca e espere que o destino não lhe piore as coisas.

publicado por swashbuckler às 17:47
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Sábado, 23 de Janeiro de 2010

O coito

Ora muito bem, um tema que a todos diz respeito e que a todos interessa: sexo!

Na infância é a descoberta, a procura, a brincadeira à volta disso (bem, a brincadeira mantêm-se para o resto da vida). Mas sejamos sinceros, quando somos crianças ocupamos o tempo com outras coisas que na altura são muito mais motivantes. E ainda bem, porque realmente meninas sem maminhas nem rabinhos definidos não têm piada nenhuma, assim como meninos com a pilinha pequena.

Depois vem a adolescência e a coisa já muda de figura, as hormonas fervem, a vergonha cresce à medida que o interesse sobe, os cabelos começam a soltar-se e apesar das borbulhas que nos ocultam a beleza da face, os corpos começam a entrelaçar-se com muita vontade. As experiências sucedem-se com corpos assim, corpos assado, corpos para cima, corpos para baixo. Mas sempre dentro de um certo padrão estético em que normalmente os mais giros andam com as mais giras e os outros...bom...os outros são os outros.

Depois somos adultos (oh! terrível castigo!) e a coisa não é tão linear como antes. Para alguns só aqui o sexo começa a aparecer com frequência, conheço até muito boa gente que durante a adolescência andou a chuchar no dedo e que agora, oh oh, chucham por aí fora. Digamos que até aos 40 (correndo o risco de errar por ainda não ter chegado lá), o sexo é motivante e muito importante para a pessoa ser pessoa.

Na meia idade a coisa torna-se mais distante, mais "o que conta não é a quantidade, é a qualidade"...bah...claro, claro, nós vamos tentar acreditar. O amor vence barreiras, neste caso quebra, e que grandes barreiras começam a aparecer na cama. A celulite, as mamas descaídas, os rabos flácidos, as estrias dos bebés que já nasceram, as pilinhas que não funcionam como antes, as barriguinhas de cerveja, as dores musculares, o patrão que nos lixa a vida com horário parvos, os filhos que choram, os filhos que são marginais, os filhos que são parvos, os filhos que são demasiado adoráveis...enfim...

Bom, mas serviu este post para chegar ao que me interessa! Sexo na velhice! Ora bem meus amigos, esta vai ser a safa de todos, vamos ficar todos relaxados quando lá chegarmos! É que nesta altura (tirando os que fazem plásticas), vamos estar todos com os corpos pouco apresentáveis, ou seja, o interesse sexual deve decrescer espantosamente. Quando o acto é praticado não se está à espera de deuses gregos na cama, está-se somente à espera que a pilinha se ponha em continência ou que o Viagra funcione, à falta de melhor. Aqui talvez encontremos o amor. É que como não há sexo tão regularmente, somos obrigados a...espantem-se...conversar! Meu deus! Que difícil tarefa não acham? Será que é nesta altura que se descobrem as pessoas? Há os acomodados, mas isso é outro post.

Bom, se o Viagra não funcionar resta-nos fingir que voltamos a infância e toca a brincar aos médicos outra vez! Ciclos meus caros, ciclos de vida tal como a água.

Bem, os que podem forniquem o mais que possam, os que não podem não se preocupem, quando formos todos velhinhos vamos ser todos iguais (tirando algumas excepções, espero ser uma delas), quando formos velhinhos vamos passar a ter que ser todos...como é? Ah! Simpáticos!!!

publicado por swashbuckler às 15:29
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Quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010

Smith

Um gin tónico pouco tónico e com uma pedra de gelo. Era o sexto da noite. O ziguezaguear de Smith era cada vez mais evidente, as ruas estavam cada vez mais inclinadas. Na manhã seguinte a gabardina preta iria ter manchas invisíveis durante a noite. As nódoas da noite só se vêm à luz do dia.

Hoje era fim de semana, para Smith um dia igual aos outros. Sobrevivia com as poupanças de alguns anos de trabalho, pouco árduo diga-se de passagem, Smith não era o empregado ideal e a curta passagem por um cargo de chefia revelou o lado mais perverso que escondia dentro dele. Depressa se assustou com essa parte do carácter e desistiu de comandar. Comandar é muito difícil.

Objectivos da noite, acertar com a chave na fechadura à terceira tentativa, despir-se com parcimónia e não espalhar a roupa pelo chão, conseguir dormir de barriga para cima com os braços em posição de caixão.

 

publicado por swashbuckler às 16:36
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Terça-feira, 19 de Janeiro de 2010

Smith

Todo vestido de branco com um lacinho vermelho bem colocado no centro do seu pescoço. Cabelo com risco ao meio de onde saiam fios de cabelo muito esticados, igualmente repartidos para cada um dos lados da cabeça. Sapatos pretos envernizados e muito brilhantes. Dentro da camisa e colado ao peito, como recomendável, um fio com uma cruz a pender perto do coração. Uma vela branca já meio derretida com pingos de cera secos e desordenados agarrados ao corpo da vela. Um sorriso forçado e 10 crianças exactamente iguais ao seu lado.

Ao ver a foto da sua primeira comunhão Smith deixou de acreditar em deus. A estética daquele momento era demasiado humilhante para o presente e desgraçadamente alvo e puro. Smith não gostava de coisas alvas muito menos de coisas puras.

Se o Homem é feito à imagem de deus então deus é a coisa mais impura e absurda que se pode imaginar.

Smith guardou a foto na segunda gaveta da bruta cómoda de carvalho que trouxera da casa dos pais depois destes falecerem. Sempre que voltasse a temer a deus e a querer acreditar nele, iria simplesmente abrir a gaveta e ver que a devoção a deus faz o Homem celebrar coisas absurdas e ainda por cima faz o Homem vestir-se de maneira ridícula.

A foto era a prova de que deus não existe.

publicado por swashbuckler às 17:47
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Segunda-feira, 18 de Janeiro de 2010

Smith

Gostava de dançar ao espelho. Colocava a agulha no disco e começava a rodar sozinho. Fechava os olhos e abraçava-se para não sentir a falta dela. O tapete já estava gasto em círculo, os sapatos de camurça de Smith eram demasiado fortes e ásperos.

Naquele dia a agulha partiu-se e riscou o disco. Smith parou de dançar, trocou a agulha e colocou o disco em 33 rotações. Sentou-se no sofá antigo e deixou-se enervar pelo barulho irritantemente contínuo e compassado do disco riscado.

publicado por swashbuckler às 15:13
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