Quando era crianço não percebia patavina da vida. Ainda assim, e por várias contingências, aos 6 ou 7 anos sabia o nome dos Ministros, dos políticos mais importantes e via o Telejornal diariamente. E como todo o crianço tinha sonhos e desejos, e em altura de campanha e de eleições não era diferente. Gostava das cores, das feiras, dos mercados, dos beijos molhados na tromba dos políticos, dos apertos dados por mãos limpas a mãos calejadas, gostava da festa e do arraial.
Na noite das eleições, observar as projecções, os votos a chegarem, os partidos na montanha russa da percentagem, era melhor do que um jogo do Benfica. Em 1991, com 8 anos, o sonho era ver o PSR eleger Francisco Louçã. Fui um crianço triste nessa noite, esteve quase, mas não chegou. Em 1995, com 12 anos, já estava um bocadinho mais consciente, mas não muito. Nesse ano mantinha-se o sonho Louçã, e adicionava-se outro, ver o CDS, agora PP, chegar aos míticos dois dígitos. Louçã ficou ainda mais longe do Parlamento e o CDS-PP esteve quase, quase a chegar lá, mas no fim da noite o crianço voltava a estar triste.
Ontem pensava porque raio isto sucedera. Quando aos 14 ou 15 anos me tornei militante da JCP, com um pensamento ideológico estruturado ao mínimo mas agora totalmente consciente do seu rumo, olhava para trás e não me percebia. Hoje, aos 30 anos, descubro a resposta, mas não descubro a pólvora. É simples e imediato, obviamente que as mensagens que mais ouvimos na comunicação social são as mais facilmente absorvidas se não tivermos espírito crítico, então se se for um crianço...
A comunicação social e quem a domina, queriam Louçã no Parlamento e queriam que o CDS chegasse aos dois dígitos, e conseguiram, com paciência e muita estratégia. A comunicação social actual e os analistas políticos não se cansam de usar a expressão "arco da governação". Já não me recordava quem tinha inventado a expressão, mas há uns dias um jornalista explicava, dizia que não tinha sido a imprensa a inventar a expressão, que tinha sido Paulo Portas. Dizia-o como que a desculpar-se e a legitimar o uso da expressão em tudo que é notícia, mas é indesculpável o seu uso. É uma expressão que ao nível de "inception" é das mais poderosas dos últimos tempos. É uma expressão 100% tendenciosa e portanto a comunicação social deveria ser proibida de a usar.
Não dou para aquele peditório que diz que o povo é burro e que tem o que merece. O povo é levado a viver num mundo que mistura o "Matrix" e o "Inception", um mundo e um país inventado, em que quem não parar para raciocinar com mais calma é absorvido por uma comunicação social infantilmente subjugada aos interesses económicos e políticos. Em Portugal não são necessários lobbys, a comunicação social é o lobby mais poderoso que existe, basta manietá-la e colocá-la a trabalhar para nós.
Voltei ao activismo político militante por volta do 12 de Março de 2011, com 27 anos, fi-lo porque a realidade assim me obrigou. Durante alguns anos também me deixava levar pelo "Big Brother" que me rodeava. A ideologia já estava lá, mas a concretização e a argumentação eram fracas e de senso comum, talvez até populistas. Agora sou daqueles que não acredita em tudo que lhe espetam pelos olhos dentro, mas continuo a ter de fazer um esforço para não ir na onda, continuo a ter de pensar que os Josés Gomes Ferreiras desta vida até podem dizer umas frases bonitas e fortes, mas que se trocassem de lugar com os políticos burgueses, serviriam exactamente os mesmos interesses que os políticos burgueses servem.
Pessoalmente fico feliz por ter erguido a minha carapaça. A maior prova disso são os enervantes anúncios com que a Vodafone nos presenteia este Verão. Passado dois ou três dias de irem para o ar já eu sabia que estava no "top of the world, hey", mas só passado três ou quatro semanas percebi e gravei na minha cabeça que aquele massacre sonoro era daquela marca. Durante quase dois anos tive um telemóvel 91 porque achava que me dava jeito, depois comecei a ter menos dinheiro e o jeito deixou se fazer. O que os propagandistas de serviço na Vodafone conseguiram fazer com estes anúncios foi perderem para sempre um cliente, só voltarei a ter um 91 se isso for imprescindível para que a Revolução se faça.
Aprende-se mais sobre o presente e temos mais respostas sobre o futuro nos livros de História do que nas notícias dos telejornais. Leiam mais livros, vejam menos TV, vão ver que começam a descobrir um mundo mais colorido e interessante.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. O Rei
. Um beijo de parabéns à UG...
. Portugal não é a Grécia e...
. 21 de Outubro: Orson Well...