Foi-se! Foi-se o ministro do enorme aumento de impostos, do desvio colossal, das condições climatéricas adversas. Foi-se o ministro que frisou não ter sido "eleito coisíssima nenhuma". Mas não nos chega.
Foi-se e não deixou os seus créditos por mãos alheias. A carta que escreve a Passos Coelho e ao país é um tratado político que destrói o pouco futuro que o actual governo tinha. Com um Presidente da República dos sérios e num país mais democrático que o nosso, esta seria a gota final para fazer transbordar o copo e afogar a coligação. De Belém não chegará a boa nova e as desventuras continuam a ser só nossas, do Povo.
Com esta carta ficamos a saber várias coisas: tínhamos um ministro das Finanças demissionário desde Outubro; temos um governo 100% dividido; o executivo não tinha uma liderança; Gaspar é e será sempre um ser irónico - sarcástico até -, pouco solidário, autoritário e mais esperto que uma enguia.
Que fazer então para que este governo cada vez mais esventrado abandone de uma vez o poder? Continuar a lutar. Esta é a principal e motivadora ilacção que temos a tirar desta história.
Fazendo um breve resumo de alguns dos momentos mais importantes da luta contra este governo:
- Manifestação Internacional de 15 de Outubro de 2011 e Greve Geral de 24 de Novembro de 2011: com poucos meses de vida o actual executivo foi logo brindado com estes dois momentos de luta de massas. Se o 15 de Outubro foi importante pela solidariedade internacional anti-capitalista, a Greve Geral de 24 de Novembro prova que cedo se tomaram medidas inaceitáveis, com especial relevo para toda a desregulamentação laboral plasmada no OE para 2012. Devido ao chamado "estado de graça", os rombos no executivo foram ainda pequenos, mas de rombo em rombo...
- Greve Geral de 22 de Março de 2012: a austeridade continuava, a prepotência também. Esta Greve Geral não deixou esvaziar o balão da contestação e da proposta, abriu ainda mais o fosso entre o governo e a sociedade. Daí a uns meses, em Junho, o Tribunal Constitucional chumbava algumas medidas do OE para esse ano, prova inequívoca da justeza da marcação desta greve.
- 15 de Setembro de 2012: a manifestação convocada pelo grupo "Que Se Lixe a Troika" levou o governo a recuar nas alterações que pretendia implementar na Taxa Social Única. O mar de gente que saiu à rua marcou, neste dia, o completo divórcio dos cidadãos com o executivo. A partir deste dia, Vítor Gaspar percebe que não tem condições para avançar com o seu plano. O pedido de demissão de Outubro de 2012 e a carta de ontem são uma consequência deste momento de luta. Talvez, ao contrário do que pensávamos, Gaspar seja um bocadinho mais consciente e democrata que Coelho e o PSD...afinal Gaspar parecia estar a ouvir as ruas.
- 2 de Março de 2013: se o 15 de Setembro foi passado para a opinião pública como a "manif anti-TSU" - mentira, a politização do apelo era evidente e não deixava margem para dúvidas -, o 2 de Março teve um mote simples e directo: "Demissão!". E foi isso que quase 2 milhões de pessoas vieram gritar para a rua naquela tarde. Cavaco continuou quedo mas o governo já tinha joelhos de barro, e o calor aproximava-se...
- Manifestação Internacional de 1 de Junho de 2013: esta manif e tantas outras mais pequenas marcadas pelo movimento, bem como algumas maiores convocadas pela CGTP-IN, apesar de não terem sido gigantes nos seus números, tiveram a capacidade de impedir que o governo apresentasse mais medidas de austeridade, principalmente o famoso plano de reforma do Estado. Este plano foi sendo chutado para a frente e esperamos agora que seja apresentado a 15 de Julho. O governo começou 2013 com medo. Medo dos seus erros e medo das manifestações.
- Greve de professores e Greve Geral de 27 de Junho de 2013: esta greve de professores marca a derrota mais palpável do executivo - facto que muito irritou a Troika. E nada melhor que uma Greve Geral muito participada - convocada pela CGTP-IN e logo subscrita pela UGT, embora com intenções diferentes - para confirmar o estado anémico do Coelho. No dia 1 de Julho de 2013, Gaspar demite-se, pela terceira vez...
Imaginemos o país sem estes grandes momentos de contestação. E então, ainda acham que não vale a pena lutar?
Vítor Gaspar sai, mas o que queremos é que todo o governo saia. Suponho - e muito desejo! - que aconteça antes do que podemos esperar. Esquecendo as informações de Paulos Macedos a trocarem a Saúde pelas Finanças, dos Catrogas a dizerem que o governo continua com toda a legitimidade, etc, fiquemos pelos factos.
Quem substitui Gaspar? Maria Luís Albuquerque, a Miss Swap. Uma ministra que antes de o ser já o não poderia ser. Uma ministra que o será porque, durante 9 meses, Passos Coelho e Portas não conseguiram arranjar um peso pesado que se quisesse queimar com eles. Esta escolha é frágil e estúpida.
E pensar que Miguel Relvas pode muito bem estar a gozar uns dias de férias regados com cocktails... Não deixemos que Gaspar tenha o mesmo privilégio. Não estamos a falar de ex-ministros, estamos a falar de traidores do Povo, que o Povo actue em conformidade!
P.S. - esta reflexão vai para o post scriptum porque só o próprio escritor a pode confirmar.
Frase que inicia a última página da carta de Gaspar: "Senhor Primeiro Ministro, liderança é, por vezes, definida como sabedoria e coragem combinadas com desinteresse próprio. (...) Fácil de dizer, difícil de assegurar (...). Sendo certo que contará sempre com a inteligência, coragem e determinação dos portugueses, cabe-lhe o fardo da liderança."
Isto será Gaspar a dizer a Passos Coelho que o Povo é mais inteligente que ele e que a Tecnoforma cheira a cocó?
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