E hoje é dia de festa na Avenida Almirante Gago Coutinho. A UGT faz 35 anos e para o assinalar promove várias acções de protesto contra as políticas deste governo, que tem piorado a vida de tantas pessoas. Ah, afinal não, enganei-me, o aniversário é assinalado no Hotel Altis com umas intervenções duríssimas de trabalhadores e trabalhadoras. Ah, afinal também não, no meio de vários representantes sindicais internacionais, falaram Silva Peneda, presidente do Conselho Económico e Social - o tal que até diz umas coisas ponderadas, mas que duvido que as mantivesse se estivesse no governo - e Pedro Mota Soares, Ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social e conhecido defensor da causa de quem trabalha. Pela tarde, num debate sobre um novo Plano Marshall para a Europa, teremos ainda o privilégio de ouvir Pedro Roque Oliveira, ex-Secretário-Geral Adjunto da UGT e ex-Secretário de Estado do Emprego do actual governo, portanto mais um grande defensor da causa de quem trabalha.
Depois das grandes manifestações que tiveram lugar nos dois sábados passados, há quem as critique porque deviam ter sido isto em vez daquilo, porque deviam ter terminado assim e não assado. Depois vêm os criticados criticar os que os criticaram, a seguir os criticados por terem criticado vão criticar os que os criticaram por terem criticado, a seguir cri cri cri cri, continuam os grilos a cantar. Curiosamente, na boca e na pena de muitas dessas pessoas, a sigla UGT raramente ou nunca existe. Eu também preferia não a usar, era sinal que ela não contava para nada, mas conta, e é por isso que a porrada que damos aos teclados quando criticamos outros por serem medricas, divisionistas ou não erguerem as massas, devia estar dirigida em larga escala a esta organização em que o capital se disfarça de sindicalismo.
Como vivemos num país eminentemente católico, o perdão faz parte do nosso discurso cultural, as segundas oportunidades estão aí para serem dadas. A UGT já teve muitas e decidiu nunca as agarrar. Ao invés de, por exemplo, já ter rasgado de vez o acordo feito com o governo e com os patrões, prefere incarnar o papel de um árbitro desvairado que mostra cartões amarelos a torto e a direito mas que se esqueceu do vermelho no balneário, e mais, quando mostra o amarelo ainda pede desculpa.
A UGT é a maior divisora da luta de quem trabalha. O que se comemora hoje é o aniversário da institucionalização da conivência com o retrocesso social e laboral, o fim de qualquer possibilidade revolucionária que ainda existisse na sociedade portuguesa na altura da criação desta coisa. A UGT foi criada para desmobilizar e para dividir uma classe e tem cumprido bem o seu papel.
No seu discurso, Silva Peneda disse que a UGT tem sido muito importante para os trabalhadores e trabalhadoras porque negoceia medidas que sendo más para eles, se tornam menos más através da sua intervenção. Se a UGT e o capital fossem um casal, a UGT era a metade que leva porrada cinco dias por semana mas dá muito valor aos dois em que não é espancada, e está disposta a fazê-lo durante toda a vida. E nunca deixará de ser assim: deus criou o homem à sua semelhança e tirou-lhe uma costela para lhe dar uma escrava em forma de mulher; o diabo arrancou uma costela ao capital e deu-lhe o nome de UGT. Eu não acredito nem em deus nem no diabo.
Diz o ditado que quando não conseguimos vencer o inimigo nos devemos juntar a ele. Há ditados populares para todos os gostos, nem sempre têm razão e muitas vezes são contraditórios, mas a UGT decidiu levar este à letra e afirmar que está de acordo com a precariedade laboral patrocinada pelo governo PSD/CDS - pela mão de Pedro Mota Soares, que parece querer elevar-se de carrasco a exterminador de precários.
O governo quer voltar a aumentar o tempo de duração dos contratos a prazo, estendendo "extraordinariamente", até 2016, a possibilidade de os empregadores não darem um vínculo de contrato permanente a quem, por lei, tem direito a ele.
Carlos Silva, Secretário-Geral da UGT ofereceu-nos esta pérola de demagogia e de aceitação de inevitabilidades: “E devo dizer, em nome do pragmatismo, que, entre desemprego, que é uma chaga social, e a precariedade laboral, que é outra chaga social, costuma-se dizer que venha o Diabo e escolha, mas há uma pior que a outra: é preferível termos contratos precários do que não termos contrato algum”. A UGT passou-se para o lado daqueles que aceitam a precariedade como solução no combate ao desemprego. O Carlos Silva, como sindicalista que é, sabe que com o aumento da precariedade tem aumentado o desemprego?
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