O cognome "Paulinho das feiras" é sobejamente conhecido, vem de longe e tem, como todos os bons cognomes, justificação plena. Desde que Paulo Portas voltou a um governo da nação que cada dia que passa reforça este epíteto. Passos Coelho só não merece o mesmo cognome porque quando vai a uma feira não é educado e amigo, manda as pessoas ir trabalhar com uma enchadazinha.
Este governo está reduzido a um conjunto de feirantes. Entre o que já foi passado a pataco e o que está para ser a lista é infindável. Hoje, o Conselho de Ministros aprovou a venda dos CTT. Essa coisa de enviar cartas e postais também já tem os dias contados, o que está a dar é sms's, e-mails e mensagens de Facebook...tirando as empresas que precisam dos Correios mais ninguém precisa...bem, e os Tribunais e outros serviços públicos...bem, se calhar os idosos que recebem as pensões pelos Correios também precisam deles...ah, e os emigrantes que gostam de enviar encomendas...espera lá, mas há aquelas pessoas que não tem net nem telefone ou telemóvel, umas porque não têm dinheiro, outras porque não querem...e também há aqueles que estão isolados e que por isso não podem mesmo ter net ou telemóvel...bem se calhar esta coisa dos Correios até dá algum jeito...Olhem, comecem a treinar os sinais de fumo, deixa menos pegada ecológica, proporciona exercício físico e até é esteticamente agradável.
Claro que a venda dos CTT não implica, imediatamente, o fecho da empresa ou a subida dos preços, mas nós que já andamos aqui a algum tempo percebemos que talvez se vão fechando mais algumas dependências, que talvez se suba um cêntimo aqui e outro ali, que talvez, um dia, a empresa que comprar os CTT a queira vender na totalidade, e aí pode ser que o governo se tenha esquecido de garantir que os CTT não podem ser extintos.
Os factos, como nos foram apresentados e noticiados:
- António José Seguro e Paulo Portas estiveram presentes numa reunião do Grupo Bilderberg;
- Vítor Gaspar demitiu-se porque achou que a sua política tinha falhado;
- os mercados assustaram-se, fizeram xixi nas calças e os juros subiram e a bolsa desceu;
- a última assinatura de Vítor Gaspar serviu para permitir que 90% do dinheiro do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social sirva para pagar o serviço da dívida soberana;
- o ministro quasi-demissionário Pedro Mota Soares, também assinou;
- Paulo Portas demitiu-se porque não queria Maria Luís Albuquerque como Ministra de Estado e das Finanças, seria um acto dissimulado a sua continuação no governo, disse;
- os mercados tiveram medo, fizeram cocó nas calças e os juros subiram e a bolsa desceu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- Passos Coelho não aceitou a demissão de Portas e disse que não se demitia;
- os mercados esboçaram um sorriso e os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinha razão;
- Portas disse que queria ser vice Primeiro-Ministro e que queria mais meninos e meninas do CDS a governar;
- Passos aceitou e deu um grande abraço ao Portas que estava carrancudo;
- os mercados limparam as lágrimas;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- o Cavaco propôs que PSD, CDS e PS dessem as mãos num grande acordo para salvar o país;
- os patrões acharam bem, e disseram que assim, se calhar, o governo ia ser um nadinha mais fofo;
- o Cavaco disse que se chegassem a acordo até dava um rebuçado e convocava eleições para Junho de 2014, depois de cumprido o memorando;
- PSD, CDS e PS começaram a conversar;
- os mercados esfregaram a barriga de contentes e os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- pelo meio o PCP quis conversar com a Esquerda e o BE quis conversar com o PS;
- a Esquerda começou a conversar e o PS disse que gostava mais de conversar com o PSD e o CDS;
- durante este tempo os mercados estavam meio baralhados do sistema e os juros e a bolsa andaram na montanha russa;
- "Os Verdes" apresentaram uma moção de censura no parlamento, o PSD e o CDS estavam muito nervosos e o PS estava parvo;
- a moção foi chumbada e o PSD e o CDS estavam mesmo tão nervosos e o PS tão parvo, que chegaram a tirar a máscara por alguns momentos e explanaram toda a sua dificuldade de vivência democrática;
- o PS disse que afinal não havia a mínima hipótese de chegar a acordo com o PSD e o CDS;
- os mercados ficaram com as pernas a tremelicar e os juros só não subiram e a bolsa não desceu porque estavam de fim de semana;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- os patrões disseram que o PSD, o CDS e o PS eram tontinhos e irresponsáveis porque não se entendiam;
- o Cavaco disse que então nada feito e que o PSD e o CDS afinal não eram assim tão maus e que podiam continuar a fazer as coisas que fazem lá nos gabinetes;
- o Cavaco disse que aquilo das eleições em Junho de 2014 era só para o PS ficar contente e disse para esquecermos lá isso;
- o Cavaco disse que de qualquer das formas ia estar muito atento se o PSD e o CDS voltassem a deixar comida no prato ou a fazer xixi fora do penico;
- os mercados estavam de fim de semana, mas apanharam uma grande bebedeira para comemorar, no dia seguinte os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- os patrões disseram que pronto, do mal o menos, ia haver estabilidade;
- o PS estava semi-triste, eles queriam eleições mas não queriam assinar o acordo;
- no meio destas subidas e descidas todas dos juros e da bolsa, quem ficou muito contente foram os senhores do BES, da EDP, da PT, do Banif, da SONAE, da Jerónimo Martins e aquele senhor Américo, o das cortiças, parece que ganharam uns quantos milhões de euros enquanto a coisa ia e vinha;
- no Grupo Bilderbeg abriram uma garrafa de champanhe e regaram os mercados com ela.
E agora, quem é que ganhou no meio disto tudo? Tirem as vossas conclusões e tratem de agir em conformidade.
P.S. - no fim disto tudo - um bocadinho contente porque os mercados são os maiores e têm sempre razão e tinham ganho outra vez, mas um bocadinho triste porque ainda ninguém tinha despedido 50 mil funcionários públicos - o José Gomes Ferreira ligou ao Camilo Lourenço e disse-lhe que ligasse aos mercados, aos tanques, à bolsa, aos canhões e ao António Borges, ainda não era desta que podíamos esquecer aquela coisa da Democracia. O Camilo disse-lhe que compreendia, mas que estavam confiante que mais cedo ou mais tarde os mercados papavam a Democracia, de vez.
Cancioneiro da loucura
Sons e imagens de uma novela colectiva
Vítor Gaspar demite-se - pela terceira vez. Como não quer que os amiguinhos continuem a governar, lança uma carta bomba. Passos Coelho chora num canto, desgosto, traído, corrompido... Passos Coelho não quer ficar sem o brinquedo...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. A insustentável leveza da...