O dia 21 de Outubro de 2013 ficará marcado como o dia em que aconteceu uma manifestação de apoio à troika. Mas quando os jornalistas chegaram ao local cedo perceberam que esta manifestação era falsa e se tratava de uma acção de divulgação da manifestação de 26 de Outubro, uma manifestação anti-troika convocada pelo grupo Que se Lixe a Troika. Algumas pessoas e jornalistas criticaram esta acção, dizendo que não se brinca com coisas sérias e que o tiro pode sair pela culatra. Mas porque é que à falta de ética diária e violenta do governo e da troika temos de responder sempre com ponderação e lealdade institucional? Estamos em guerra, e é a da sobrevivência.
Porque é que este grupo decidiu fazer esta acção?
No dia 22 de Setembro mais de uma centena de pessoas esteve reunida em plenário e fechou a data de 26 de Outubro como mais uma data de mobilização contra a troika e o governo. Desde esse dia mais de 900 pessoas já subscreveram esta convocatória e o grupo tem tentado aparecer na imprensa para que o 26 seja divulgado. Ora o que tem havido é um bloqueio por parte de quem decide o que deve ou não ser notícia, este bloqueio foi tão grande quanto evidente: Comunicados de imprensa totalmente ignorados por vários órgãos; notícias que até divulgavam a manifestação mas cortavam o parágrafo que referia a data, a hora e o local; uma acção que incluiu uma conferência de imprensa e uma vaia ao primeiro-ministro com todas as televisões presentes, televisões essas que chegaram a ter no alinhamento dos seus telejornais da hora de jantar esta notícia e que depois, de um momento para o outro, a retiraram, as três.
Esta acção de guerrilha mediática atingiu os dois objectivos a que se propunha: furar este bloqueio informativo e provar que uma manifestação pró-troika convocada por 7 pessoas e com um comunicado ingénuo, ganha facilmente o espaço mediático cedido pelas empresas que controlam a comunicação social portuguesa.
Decimatio, dizimação, era uma das penas aplicadas aos soldados romanos que desertavam do campo de batalha ou se amotinavam. A pena era aplicada a todos, mas só 10% a sofriam no corpo. Os soldados faltosos eram agrupados em conjuntos de dez e, através de sorteio, um deles era apedrejado e espancado até à morte, os restantes passavam a ter rações mais fracas e passavam a viver fora do campo protegido, ao pé das prostitutas e dos criminosos e mercenários que acompanhavam e auxiliavam os exércitos.
Um dos generais que mais aplicou a dizimação foi Marcus Crassus, o carrasco de Spartacus, líder da Terceira Guerra Servil, em que cerca de cem mil escravos se revoltaram contra Roma e o seu império. Algumas teses afirmam que foi a utilização deste método que permitiu a Crassus vencer Spartacus, o medo que os soldados passaram a ter do próprio general suplantou o que sentiam pelo seu inimigo.
Com um sentido diferente da que lhe deu origem, a palavra dizimação é hoje usada para caracterizar uma devastação, o desaparecimento total ou parcial de algo ou de um conjunto de indivíduos. A direita convive bem quer com o sentido actual quer com o método romano, aliás, utiliza-o como forma eficaz de chegar ou de se manter no poder. Para lá chegar sacrifica internamente alguns dos anteriores líderes e seus apoiantes, para o manter sacrifica grupos de cidadãos que servem de exemplo para que os restantes se sintam afortunados e cooperem ou fechem os olhos a esse sacrifício. A direita fá-lo sem pensar muito, fá-lo porque é inevitável para a sua sobrevivência.
O governo de Passos Coelho e Portas - e Cavaco -, é provavelmente o governo que enfrentou mais contestação pública desde a constituição da Assembleia da República. Greves gerais, greves sectoriais, manifestações sindicais, manifestações de outros movimentos sociais, manifestações de partidos, concentrações, acções, protestos em plena A.R., esperas públicas, invasão de palestras, tem sido este o variado menu de protesto e de proposta de alternativas de Esquerda. Precisamos de o manter e de o alargar, quer na quantidade quer na qualidade.
A coisa só se dá com união, ponderação e determinação. Têm sido muitos a pedir a união das "esquerdas" - coloquem o PS dentro ou fora disto, conforme vos apeteça ideologicamente - e têm sido muitos a trabalhar para essa desunião, muitas das vezes têm sido os mesmos a fazer as duas coisas em paralelo. A bandeira da unidade é frágil, tem um pano enorme e um pau muito pesado, não se ergue com palavras, segura-se com actos.
A crítica costuma rondar sempre a mesma questão: a CGTP e os partidos da esquerda parlamentar não mantêm as pessoas na rua.
A CGTP e a esquerda parlamentar têm os seus percursos, as suas ideias, as suas formas de fazer e os seus caminhos. Durante anos - décadas no caso da CGTP e do PCP - deram luta ao fascismo, ao "soarismo", ao "cavaquismo" e agora ao liberalismo económico. Estas lutas não lhes dão autoridade moral em relação aos mais novos e menos experientes, dão-lhes apenas História e maior organização. Em todos esses anos deram passos em frente e passos atrás, reinventaram-se, bem umas vezes e mal outras. Quem está com eles em muitas das suas reivindicações e ideais mas não concorda com os seus planos de acção só tem uma coisa a fazer: meter as mãos à obra e criar o seu espaço.
O cognome "Paulinho das feiras" é sobejamente conhecido, vem de longe e tem, como todos os bons cognomes, justificação plena. Desde que Paulo Portas voltou a um governo da nação que cada dia que passa reforça este epíteto. Passos Coelho só não merece o mesmo cognome porque quando vai a uma feira não é educado e amigo, manda as pessoas ir trabalhar com uma enchadazinha.
Este governo está reduzido a um conjunto de feirantes. Entre o que já foi passado a pataco e o que está para ser a lista é infindável. Hoje, o Conselho de Ministros aprovou a venda dos CTT. Essa coisa de enviar cartas e postais também já tem os dias contados, o que está a dar é sms's, e-mails e mensagens de Facebook...tirando as empresas que precisam dos Correios mais ninguém precisa...bem, e os Tribunais e outros serviços públicos...bem, se calhar os idosos que recebem as pensões pelos Correios também precisam deles...ah, e os emigrantes que gostam de enviar encomendas...espera lá, mas há aquelas pessoas que não tem net nem telefone ou telemóvel, umas porque não têm dinheiro, outras porque não querem...e também há aqueles que estão isolados e que por isso não podem mesmo ter net ou telemóvel...bem se calhar esta coisa dos Correios até dá algum jeito...Olhem, comecem a treinar os sinais de fumo, deixa menos pegada ecológica, proporciona exercício físico e até é esteticamente agradável.
Claro que a venda dos CTT não implica, imediatamente, o fecho da empresa ou a subida dos preços, mas nós que já andamos aqui a algum tempo percebemos que talvez se vão fechando mais algumas dependências, que talvez se suba um cêntimo aqui e outro ali, que talvez, um dia, a empresa que comprar os CTT a queira vender na totalidade, e aí pode ser que o governo se tenha esquecido de garantir que os CTT não podem ser extintos.
Cancioneiro da loucura
Sons e imagens de uma novela colectiva
Vítor Gaspar demite-se - pela terceira vez. Como não quer que os amiguinhos continuem a governar, lança uma carta bomba. Passos Coelho chora num canto, desgosto, traído, corrompido... Passos Coelho não quer ficar sem o brinquedo...
Há pouco, em rodapé, passavam duas notícias de última hora na Sic Notícias. Uma era a ida dos 36 arguidos do caso "Face Oculta" a julgamento, e a outra era o Conselho de Ministros extraordinário. Por momentos confundi as duas e pareceu-me ler que os 36 arguidos do governo iam a julgamento!
"Ordinariamente todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulaão e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?"
Eça de Queiroz, 1867, in "O distrito de Évora"
Desta vez a referência ao autor da frase está a negrito de uma forma propositada. Tenho ideia que daqui a outros 143 anos, algum sereno ser como eu, vai ter um blogue, ou algo similar, e vai postar uma citação de 2010 escrita por um outro Eça.
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