No meu enterro quero que uses véu e grinalda e tenhas um filho nosso a crescer-te na barriga. Não quero que ninguém chore mas quero muitos bolos de chocolate espalhados pela casa. No meu enterro quero que te mantenhas com um sorriso na cara e um bouquet igual a todos os bouquets na mão esquerda. Quero muito álcool espalhado pela casa, ao lado dos bolos de chocolate. No meu enterro quero que voltem a abrir o caixão para ver se eu estou mesmo morto lá dentro, ia detestar acordar no meio de um nada minúsculo. Não quero que deixes entrar as minhas amantes nem quero que leves os teus amantes lá a casa tão cedo, troca os lençóis da cama pelo menos ou então fodam só no sofá da sala, também é confortável. Quero música, sempre muita música, todo o tipo de música mas sempre da boa, música da boa. Não quero cá flores e paneleirices do género, quero gente a comer com as mãos, gente a fumar tabaco e coisas que precisam de ser fumadas com tabaco, gente a alucinar com drogas um bocadinho mais ilegais que as outras, gente em lingerie, é isso, no meu enterro quero que muitos filhos comecem a crescer nas barrigas das mulheres que lá estiverem. Lei da compensação, morre um nascem vários e eu ia ficar muito feliz por valer por vários.
No meu enterro vais tu enterrar-me já que foste tu que me mataste. Vemo-nos nos teus sonhos, tentarei que se tornem pesadelos.
Digamos que é necessário haver alguns nós na vida para que as coisas não nos fujam. Dou por mim a descobrir que tenho demasiadas pontas soltas. Nós por dar, coisas por agarrar. Será bom ou mau? Neste momento incomoda-me de sobremaneira. Preciso de uma espécie de lixívia para aclarar a sujidade, preciso de um empregado de hotel que me arrume a bagagem no canto do quarto e não me peça gorjeta. Um isqueiro. É isso, política de terra queimada, devastar tudo à minha volta e tornar-me no único carvalho da floresta, apanhar sol sozinho no meio da clareira.
Às vezes dizem-me "só mesmo tu", outras dizem "tu não existes mesmo"...em que é que ficamos? Eu acho que existo, pelo menos quando me corto faz sangue e, até hoje, sempre que adormeço volto a acordar. "Só mesmo tu", sim, o meu universo sou eu e só eu, não no sentido egoísta mas no sentido único da existência, eu só existo para mim, só eu é que sei como é ser eu, portanto só mesmo eu.
E agora?
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