Decimatio, dizimação, era uma das penas aplicadas aos soldados romanos que desertavam do campo de batalha ou se amotinavam. A pena era aplicada a todos, mas só 10% a sofriam no corpo. Os soldados faltosos eram agrupados em conjuntos de dez e, através de sorteio, um deles era apedrejado e espancado até à morte, os restantes passavam a ter rações mais fracas e passavam a viver fora do campo protegido, ao pé das prostitutas e dos criminosos e mercenários que acompanhavam e auxiliavam os exércitos.
Um dos generais que mais aplicou a dizimação foi Marcus Crassus, o carrasco de Spartacus, líder da Terceira Guerra Servil, em que cerca de cem mil escravos se revoltaram contra Roma e o seu império. Algumas teses afirmam que foi a utilização deste método que permitiu a Crassus vencer Spartacus, o medo que os soldados passaram a ter do próprio general suplantou o que sentiam pelo seu inimigo.
Com um sentido diferente da que lhe deu origem, a palavra dizimação é hoje usada para caracterizar uma devastação, o desaparecimento total ou parcial de algo ou de um conjunto de indivíduos. A direita convive bem quer com o sentido actual quer com o método romano, aliás, utiliza-o como forma eficaz de chegar ou de se manter no poder. Para lá chegar sacrifica internamente alguns dos anteriores líderes e seus apoiantes, para o manter sacrifica grupos de cidadãos que servem de exemplo para que os restantes se sintam afortunados e cooperem ou fechem os olhos a esse sacrifício. A direita fá-lo sem pensar muito, fá-lo porque é inevitável para a sua sobrevivência.
O governo de Passos Coelho e Portas - e Cavaco -, é provavelmente o governo que enfrentou mais contestação pública desde a constituição da Assembleia da República. Greves gerais, greves sectoriais, manifestações sindicais, manifestações de outros movimentos sociais, manifestações de partidos, concentrações, acções, protestos em plena A.R., esperas públicas, invasão de palestras, tem sido este o variado menu de protesto e de proposta de alternativas de Esquerda. Precisamos de o manter e de o alargar, quer na quantidade quer na qualidade.
A coisa só se dá com união, ponderação e determinação. Têm sido muitos a pedir a união das "esquerdas" - coloquem o PS dentro ou fora disto, conforme vos apeteça ideologicamente - e têm sido muitos a trabalhar para essa desunião, muitas das vezes têm sido os mesmos a fazer as duas coisas em paralelo. A bandeira da unidade é frágil, tem um pano enorme e um pau muito pesado, não se ergue com palavras, segura-se com actos.
A crítica costuma rondar sempre a mesma questão: a CGTP e os partidos da esquerda parlamentar não mantêm as pessoas na rua.
A CGTP e a esquerda parlamentar têm os seus percursos, as suas ideias, as suas formas de fazer e os seus caminhos. Durante anos - décadas no caso da CGTP e do PCP - deram luta ao fascismo, ao "soarismo", ao "cavaquismo" e agora ao liberalismo económico. Estas lutas não lhes dão autoridade moral em relação aos mais novos e menos experientes, dão-lhes apenas História e maior organização. Em todos esses anos deram passos em frente e passos atrás, reinventaram-se, bem umas vezes e mal outras. Quem está com eles em muitas das suas reivindicações e ideais mas não concorda com os seus planos de acção só tem uma coisa a fazer: meter as mãos à obra e criar o seu espaço.
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