Há uns dias o A. e o P., dois homens, casaram-se. Um com o outro, sim. A lei entrou em vigor em Janeiro de 2010, mas foi a primeira vez que tive o prazer de festejar o casamento de duas pessoas do mesmo sexo.
Primeiro era para ser apenas uma ida ao cartório seguida de um jantar familiar, mas depois de muitas conversas e ideias acabou por ser um serão num hotel central de Lisboa. Nada de épico e faustoso, sem centenas de convidados e sem milhares de aperitivos e cocktails. Uma cerimónia simples, com música cantada por alguns dos convidados e pelo A., e um jantar acompanhado pela família e uns quantos amigos mais próximos, aqueles que nos acompanham mesmo quando não estão presentes.
A família. Deve ser duro assumir estas coisas perante a família. Nas famílias do A. e do P. não sei se ao princípio alguém estranhou alguma coisa, mas naquele dia estava tudo entranhado e mais do que aceite e mais do que feliz. Desde o "sim" até ao bolo, cortado como manda a tradição pelas mãos dos noivos e regados a champanhe. Afinal a tradição ainda é o que era, só que o bolo, desta vez, tinha as cores do arco-íris a sustentar o abraço dos dois "noivos-bonecos" confeccionados para a ocasião.
"Fulano de Tal, aceita de livre e espontânea vontade Cicrana de Tal como sua esposa, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, até que a morte vos separe?"
De livre e espontânea vontade Fulano de Tal atirou uma moeda ao ar que com perícia acabou de rodopiar na sua mão. Saiu caras.
"Sim, aceito!"
"Fulano de Tal, pode beijar a noiva!"
Foi assim que Fulano de Tal percebeu que por vezes a sorte é mesmo madrasta, pelo menos até que a morte nos separe.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.