Diz o ditado que quando não conseguimos vencer o inimigo nos devemos juntar a ele. Há ditados populares para todos os gostos, nem sempre têm razão e muitas vezes são contraditórios, mas a UGT decidiu levar este à letra e afirmar que está de acordo com a precariedade laboral patrocinada pelo governo PSD/CDS - pela mão de Pedro Mota Soares, que parece querer elevar-se de carrasco a exterminador de precários.
O governo quer voltar a aumentar o tempo de duração dos contratos a prazo, estendendo "extraordinariamente", até 2016, a possibilidade de os empregadores não darem um vínculo de contrato permanente a quem, por lei, tem direito a ele.
Carlos Silva, Secretário-Geral da UGT ofereceu-nos esta pérola de demagogia e de aceitação de inevitabilidades: “E devo dizer, em nome do pragmatismo, que, entre desemprego, que é uma chaga social, e a precariedade laboral, que é outra chaga social, costuma-se dizer que venha o Diabo e escolha, mas há uma pior que a outra: é preferível termos contratos precários do que não termos contrato algum”. A UGT passou-se para o lado daqueles que aceitam a precariedade como solução no combate ao desemprego. O Carlos Silva, como sindicalista que é, sabe que com o aumento da precariedade tem aumentado o desemprego?
O governo de Passos Coelho e Portas - e Cavaco -, é provavelmente o governo que enfrentou mais contestação pública desde a constituição da Assembleia da República. Greves gerais, greves sectoriais, manifestações sindicais, manifestações de outros movimentos sociais, manifestações de partidos, concentrações, acções, protestos em plena A.R., esperas públicas, invasão de palestras, tem sido este o variado menu de protesto e de proposta de alternativas de Esquerda. Precisamos de o manter e de o alargar, quer na quantidade quer na qualidade.
A coisa só se dá com união, ponderação e determinação. Têm sido muitos a pedir a união das "esquerdas" - coloquem o PS dentro ou fora disto, conforme vos apeteça ideologicamente - e têm sido muitos a trabalhar para essa desunião, muitas das vezes têm sido os mesmos a fazer as duas coisas em paralelo. A bandeira da unidade é frágil, tem um pano enorme e um pau muito pesado, não se ergue com palavras, segura-se com actos.
A crítica costuma rondar sempre a mesma questão: a CGTP e os partidos da esquerda parlamentar não mantêm as pessoas na rua.
A CGTP e a esquerda parlamentar têm os seus percursos, as suas ideias, as suas formas de fazer e os seus caminhos. Durante anos - décadas no caso da CGTP e do PCP - deram luta ao fascismo, ao "soarismo", ao "cavaquismo" e agora ao liberalismo económico. Estas lutas não lhes dão autoridade moral em relação aos mais novos e menos experientes, dão-lhes apenas História e maior organização. Em todos esses anos deram passos em frente e passos atrás, reinventaram-se, bem umas vezes e mal outras. Quem está com eles em muitas das suas reivindicações e ideais mas não concorda com os seus planos de acção só tem uma coisa a fazer: meter as mãos à obra e criar o seu espaço.
O cognome "Paulinho das feiras" é sobejamente conhecido, vem de longe e tem, como todos os bons cognomes, justificação plena. Desde que Paulo Portas voltou a um governo da nação que cada dia que passa reforça este epíteto. Passos Coelho só não merece o mesmo cognome porque quando vai a uma feira não é educado e amigo, manda as pessoas ir trabalhar com uma enchadazinha.
Este governo está reduzido a um conjunto de feirantes. Entre o que já foi passado a pataco e o que está para ser a lista é infindável. Hoje, o Conselho de Ministros aprovou a venda dos CTT. Essa coisa de enviar cartas e postais também já tem os dias contados, o que está a dar é sms's, e-mails e mensagens de Facebook...tirando as empresas que precisam dos Correios mais ninguém precisa...bem, e os Tribunais e outros serviços públicos...bem, se calhar os idosos que recebem as pensões pelos Correios também precisam deles...ah, e os emigrantes que gostam de enviar encomendas...espera lá, mas há aquelas pessoas que não tem net nem telefone ou telemóvel, umas porque não têm dinheiro, outras porque não querem...e também há aqueles que estão isolados e que por isso não podem mesmo ter net ou telemóvel...bem se calhar esta coisa dos Correios até dá algum jeito...Olhem, comecem a treinar os sinais de fumo, deixa menos pegada ecológica, proporciona exercício físico e até é esteticamente agradável.
Claro que a venda dos CTT não implica, imediatamente, o fecho da empresa ou a subida dos preços, mas nós que já andamos aqui a algum tempo percebemos que talvez se vão fechando mais algumas dependências, que talvez se suba um cêntimo aqui e outro ali, que talvez, um dia, a empresa que comprar os CTT a queira vender na totalidade, e aí pode ser que o governo se tenha esquecido de garantir que os CTT não podem ser extintos.
Os factos, como nos foram apresentados e noticiados:
- António José Seguro e Paulo Portas estiveram presentes numa reunião do Grupo Bilderberg;
- Vítor Gaspar demitiu-se porque achou que a sua política tinha falhado;
- os mercados assustaram-se, fizeram xixi nas calças e os juros subiram e a bolsa desceu;
- a última assinatura de Vítor Gaspar serviu para permitir que 90% do dinheiro do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social sirva para pagar o serviço da dívida soberana;
- o ministro quasi-demissionário Pedro Mota Soares, também assinou;
- Paulo Portas demitiu-se porque não queria Maria Luís Albuquerque como Ministra de Estado e das Finanças, seria um acto dissimulado a sua continuação no governo, disse;
- os mercados tiveram medo, fizeram cocó nas calças e os juros subiram e a bolsa desceu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- Passos Coelho não aceitou a demissão de Portas e disse que não se demitia;
- os mercados esboçaram um sorriso e os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinha razão;
- Portas disse que queria ser vice Primeiro-Ministro e que queria mais meninos e meninas do CDS a governar;
- Passos aceitou e deu um grande abraço ao Portas que estava carrancudo;
- os mercados limparam as lágrimas;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- o Cavaco propôs que PSD, CDS e PS dessem as mãos num grande acordo para salvar o país;
- os patrões acharam bem, e disseram que assim, se calhar, o governo ia ser um nadinha mais fofo;
- o Cavaco disse que se chegassem a acordo até dava um rebuçado e convocava eleições para Junho de 2014, depois de cumprido o memorando;
- PSD, CDS e PS começaram a conversar;
- os mercados esfregaram a barriga de contentes e os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- pelo meio o PCP quis conversar com a Esquerda e o BE quis conversar com o PS;
- a Esquerda começou a conversar e o PS disse que gostava mais de conversar com o PSD e o CDS;
- durante este tempo os mercados estavam meio baralhados do sistema e os juros e a bolsa andaram na montanha russa;
- "Os Verdes" apresentaram uma moção de censura no parlamento, o PSD e o CDS estavam muito nervosos e o PS estava parvo;
- a moção foi chumbada e o PSD e o CDS estavam mesmo tão nervosos e o PS tão parvo, que chegaram a tirar a máscara por alguns momentos e explanaram toda a sua dificuldade de vivência democrática;
- o PS disse que afinal não havia a mínima hipótese de chegar a acordo com o PSD e o CDS;
- os mercados ficaram com as pernas a tremelicar e os juros só não subiram e a bolsa não desceu porque estavam de fim de semana;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- os patrões disseram que o PSD, o CDS e o PS eram tontinhos e irresponsáveis porque não se entendiam;
- o Cavaco disse que então nada feito e que o PSD e o CDS afinal não eram assim tão maus e que podiam continuar a fazer as coisas que fazem lá nos gabinetes;
- o Cavaco disse que aquilo das eleições em Junho de 2014 era só para o PS ficar contente e disse para esquecermos lá isso;
- o Cavaco disse que de qualquer das formas ia estar muito atento se o PSD e o CDS voltassem a deixar comida no prato ou a fazer xixi fora do penico;
- os mercados estavam de fim de semana, mas apanharam uma grande bebedeira para comemorar, no dia seguinte os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- os patrões disseram que pronto, do mal o menos, ia haver estabilidade;
- o PS estava semi-triste, eles queriam eleições mas não queriam assinar o acordo;
- no meio destas subidas e descidas todas dos juros e da bolsa, quem ficou muito contente foram os senhores do BES, da EDP, da PT, do Banif, da SONAE, da Jerónimo Martins e aquele senhor Américo, o das cortiças, parece que ganharam uns quantos milhões de euros enquanto a coisa ia e vinha;
- no Grupo Bilderbeg abriram uma garrafa de champanhe e regaram os mercados com ela.
E agora, quem é que ganhou no meio disto tudo? Tirem as vossas conclusões e tratem de agir em conformidade.
P.S. - no fim disto tudo - um bocadinho contente porque os mercados são os maiores e têm sempre razão e tinham ganho outra vez, mas um bocadinho triste porque ainda ninguém tinha despedido 50 mil funcionários públicos - o José Gomes Ferreira ligou ao Camilo Lourenço e disse-lhe que ligasse aos mercados, aos tanques, à bolsa, aos canhões e ao António Borges, ainda não era desta que podíamos esquecer aquela coisa da Democracia. O Camilo disse-lhe que compreendia, mas que estavam confiante que mais cedo ou mais tarde os mercados papavam a Democracia, de vez.
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Precisamos urgentemente de uma alternativa de esquerda que acabe com o memorando da Troika, que calcule o deve e haver real da dívida pública e que passe a governar para o povo e com o povo. Precisamos que o compromisso com estas ideias seja o mais alargado possível.
Hoje, o Bloco de Esquerda decidiu convidar o PCP e o PS para uma ronda de reuniões que possa ajudar a criar esta alternativa governativa de esquerda - ignoram o PEV, como o fazem a direita e todos os comentadores políticos. Mas esperem lá, o PCP não tinha, ontem, convidado o BE, o PEV, e a ID para o mesmo efeito? E não está, neste preciso momento, o PS a reunir com o CDS e o PSD para tentar salvar o actual memorando e manter este governo em funções?
A Esquerda tem duas hipóteses à sua frente:
1- a mais rápida mas mais improvável e menos sólida: fazer com que os (poucos) socialistas do PS de lá saiam e se juntem a essa Esquerda, ou que por lá influenciem o partido a virar para o lado certo;
2 - a mais lenta mas mais provável e mais sólida: excluir o PS - dado que parece estar a traçar o seu caminho com o arquinho e o balão da governação - e criar uma frente social de Esquerda que paulatinamente vá fazendo o seu caminho, crescendo e criando massa crítica e suporte popular.
O medo é um instinto básico de sobrevivência. A reacção de Assunção Esteves aos protestos é, portanto, mais do que normal. Não é aceitável, mas é normal, por dentro há muito que ela reagia assim. Por vezes, para sobrevivermos temos de ser bruscos e impositivos. Foi que fizeram os manifestantes nas galerias e foi o que fez a Presidente da Assembleia da República.
Diz a Assunção que os deputados e deputadas não foram eleitos para ter medo, para serem coagidos e para não serem respeitados. Perante isto acha que terão de rever os critérios de entrada nas galerias. Muito bem, Assunção, deste a papinha toda para quem te quiser contra-argumentar. Cá vai: os cidadãos do país é que não vos elegeram para vocês os coagirem, os amedrontarem e não os respeitarem. Não o fizessem e não precisavam de ter medo. Simples.
No dia 28 de Outubro, Nuno Melo, do CDS-PP, então deputado na A.R., falava assim:
Eles podem ter os ministros, os bancos, os empreendedores, os jornais, as tv's, os meios de produção, os espiões, mas nós temos e teremos sempre, a música, o teatro, a literatura, o cinema. Nossos, sempre nossos!
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