Com um olhar diagonal e descuidado observava o passado e perdia-se nas entrelinhas do que não disse a ele mesmo. Tinha vários milhares de dias acumulados no seu esqueleto, mas e daí? Saberia o que fazer nos milhares seguintes? De repente tudo era vago e distante, os filmes eram mais reais que o quotidiano e a música na cabeça já não aparecia tantas vezes, foi-se com a melodia dos sorrisos que perdeu.
Atónito descobrira que não sabia mesmo o que queria para saber, queria tanto que acabava por não querer nada. Sabia que há sua volta o mundo continuava a girar mas cada vez mais descompassadamente. Decidiu que tinha de mudar a sua própria órbita, tentar descompassar-se para entrar no compasso.
Tic tac, it's the sound of your life ticking!
Falta de coragem e medo da morte. Estranho, este medo devia fazê-lo querer distrair-se e lutar por alguma coisa, bem pelo contrário, este medo era cada vez mais paralisante. Empenhava-se em compreender o mundo e tornar-se mais culto e sabido mas não percebia que o seu mundo teria de mudar. Olhar o passado na diagonal tem destas coisas.
Tic tac, it's the sound of your life ticking!
Kadhafi diz que quer ficar na Líbia e ser um mártir, já em Portugal os sucessivos Kadhafis andam a martirizar-nos há tempo demais.
Quando for grande quero ser como o Donald Drapper.
Life is the new Facebook.
Chega, estou farto!
Entrou naquele corredor escuro e não viu a luz ao fundo túnel. As paredes estreitavam-se a cada passo e o suor rapidamente se tornava frio. O seu coração já não batia compassado. Tremia como a ponta dos dedos. Só precisava de um abraço que a levasse dali para fora mas esse abraço não veio. Os seu velhos pés já não aguentavam mais, sentou-se no meio do negro, apoiou a cabeça nos joelhos e chorou até esgotar a totalidade de água que o seu corpo guardava.
No dia seguinte a luz apareceu tímida ao fundo do túnel. Era tarde demais, ela já se tinha evaporado, os seus pés já não iam envelhecer mais. Morreu como nasceu, fechada sobre si mesma, em segredo.
Por cada filme que vejo há cem que ficam por ver.
Sim, assim devera eu ser não fosse não querer. A ironia da coisa ou a crónica de um sereno ser que se tenta tornar mais formiga e menos cigarra, mas o ócio é como uma cama com lençóis de seda. Por falar nisso, é tarde, vou deitar-me no ócio.
Mário Henrique Leiria por Mário Viegas.
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