fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.
in, "Criança em Ruínas" de José Luís Peixoto.
Por esta altura, ainda me sinto fraco, com medo e a querer morrer.
Barulho. Sangue nos ouvidos.
Pessoas. Cães. Gatos. Coisas.
Mundo. Morte. Mau cheiro.
Serenidade impossível. Unhas por cortar.
Sovacos. Ombros. Bocas. Pés.
Um abraço quente. Um abraço frio.
Mel. Pudim. Pudim de mel.
Mel de pudim.
Olhar e não ver. Ser visto por dentro.
Assobiar para o lado.
Descer a rua.
Cair.
Sofrer.
Vida madrasta que me maltrata,
Me passa rasteiras e me insulta.
Na próxima reunião deixo em acta,
Que a vida é filha da puta!
"Fodam-me o corpo, não me fodam a alma!"
Frase supostamente dita por alguém numa noite do Porto, e não é que é isto mesmo?
Já vos perguntaram com quem vivem?
A mim já, seja numa conversa corriqueira, seja numa repartição de Finanças, seja um taxista mais coscovilheiro.
O curioso é que só hoje me dei conta que a resposta que fatalmente damos, - com os meus pais, com o meu irmão, com os meus avós, com a minha mulher - está , sempre, fatalmente errada.
A verdade é que vivemos sozinhos! Podemos morar com os nossos pais, com o nosso irmão, com os nossos avós, com a nossa mulher, mas vivemos sempre sozinhos!
Porque ninguém me ajuda a respirar, ninguém me empurra as pernas para eu caminhar, ninguém me levanta os braços para eu abraçar alguém. Mesmo quem esteja reduzido a uma cadeira de rodas ou a uma cama de hospital, vive sozinho com ele mesmo.
E como cansa isto de sermos a única pessoa que passa 24 horas por dia connosco! Desde que saímos da barriga até que saímos do corpo.
Diz um homem pobre a uma senhora rica que está um bocadinho enrascada:
"A senhora, hoje, veio ter connosco porque não sabia para onde se havia de voltar...
Mas nós passámos a vida inteira a ir ter convosco porque também não temos a quem recorrer! E que nos dão, senhores, que nos dão quando lhes batemos às portas no Inversno, com os filhos embrulhados em trapos, tão cheios duma fome que o pão, só por si, não satisfaz?
Cinco réis senhores! Dão-nos cinco réis ou dizem-nos que tenhamos paciência! Rita! (entrega-lhe uma moeda) Dá isto à Srª D. Matilde e manda-a embora. Se ela voltar, diz-lhe que tenha paciência. Não queremos pobres à nossa porta!
Quando precisamos deles, dão-nos cinco réis! Quando precisam de nós, pedem-nos a vida! Se há guerra, se temos inimigos à porta - Aqui d'el-rei que a terra é de todos e todos a temos que defender, mas batido o inimigo, chegada a época das colheitas, quando se trata de comer os frutos da tal terra que é de todos, então não! Então a terra já é so deles!"
in, "Felizmente Há Luar" de Luís de Sttau Monteiro
É curioso ver como continua tudo na mesma como a lesma, e como as Matildes actuais continuam a pedir aos Manuéis e às Ritas que os ajudem de corpo e alma só para manterem a casa da Quinta da Marinha ou para terem os filhos num Colégio com nome de santo! Que deus os abençoe e às suas perdas na Bolsa!
Para que possam aferir do elevado grau cultural que e o meu irmão temos, aqui fica uma deixa.
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