Quinta-feira, 21 de Novembro de 2013

Diz o roto ao nú

Neste artigo do portal do MAS, o Gil Garcia pergunta ao Rui Tavares: mais um partido para quê? Partilho a pergunta mas guardo-a para mim. Mais a guardaria se fizesse essa pergunta com base num texto completamente oco e esquecendo que o Rui Tavares poderia devolver a pergunta ao Gil Garcia, líder - ou coisa que o valha - do mais recente partido oficializado de Esquerda, o MAS.

 

Diz Garcia que o Tavares - fulanizando o LIVRE numa única pessoa durante todo o texto: estamos perante um paradoxo que se reflecte a cada passagem diante de um espelho - não vem acrescentar nada de novo ao panorama da Esquerda portuguesa e que pouco o separa do BE e até do PS. Bom, apesar de achar que a virtude não está entre o BE e o PS, já não é mau que este novo partido toque as ideias destes dois partidos, é sinal que se calhar é um partido diferente dos que existem, deve ser o tal "meio da esquerda" a que o Rui Tavares aponta.

 

Continua Garcia dizendo que o Rui Tavares está a criar uma provável muleta para um governo do PS. E não tem todo o direito de o fazer? Depois questiona quais são as posições do LIVRE em relação a temas como a dívida e a troika, e diz que as respostas são similares às de, novamente, BE e PS mas acrescenta o PCP no meio desta alhada. Caramba, então mas afinal o LIVRE também já tem similitudes com o PCP? Se calhar é mesmo um partido que até hoje não existia. Pelos vistos aglutina ideias de socialistas, bloquistas e comunistas. Se isto faz sentido é que eu já não sei, mas que realmente até há aqui alguma diferença por causa do espectro que tenta abranger, até há.

 

 

O MAS é recente, mas segundo Gil Garcia é a solução para a resolução de todos os problemas que vivemos. Diz que não se percebe bem o que defende o partido de Rui Tavares - também fulanizo para não me desenquadrar da análise de Garcia - mas que do MAS - curioso, mas do MAS...- sabemos bem o que defende. Bem, ele saberá porque é o MAS, mas eu não sei bem o que defende o MAS. Bem, se ler o manifesto programático deste partido até fico com umas luzes. E não é que este manifesto tem pontos de contacto com o BE, com o PCP e, pasme-se com o PS? Então afinal o que tem o MAS de diferente do que já existe? Será que o MAS é LIVRE? E não defendem o MAS e o LIVRE que haja - ressalva: sem ou com PS -  uma unidade à Esquerda?

 

Mas se me esquecer de textos programáticos e olhar para o que me mostra o MAS, percebo que as 4 linhas mestras que colocou nas ruas foram: "unir a esquerda, travar a troika", "fim dos privilégios dos políticos", "prisão para quem roubou e endividou o país", "o Euro afunda o país, referendo já". Unir, une-se unindo, e antes de unir o MAS até desuniu, e esforça-se por continuar a fazê-lo. Os políticos não são todos iguais, e as pessoas do MAS sabem disso, até porque também o são. Prender pessoas por decisões políticas é das coisas mais complexas que temos para discutir, posta desta forma é zero. O Euro tem muitos problemas, propor um referendo para que o abandonemos é apenas dizer que aceitamos a derrota nesse referendo e que portanto ajudaremos a legitimar a nossa presença na moeda única, a menos que a minha leitura do presente seja estrábica.

 

Resumindo, o MAS dá o pontapé de saída no combate político com um discurso banalmente nulo, vago, populista e utilizando a demagogia como uma arma que facilmente se vira contra ele mesmo. Rui Tavares diz mais coisas concretas e importantes num artigo de opinião do que o Gil Garcia e o MAS já disseram em toda a sua existência.

 

A existência do LIVRE não me deixa um sorriso nos lábios, mais facilmente concordo com algumas ideias do MAS - o MAS do programa e não o MAS da demagogia de rua - do que com o que o LIVRE parece estar a construir. Mas uma coisa é certa, o MAS eu já sei como actua, e não gosto, o LIVRE tenho umas ideias de como actuará, e acho que também não vou gostar. Neste momento, o LIVRE, ainda é algo que não existe, portanto verei para crer.

 

A verdade é que fazer um partido é simples, recolhem-se 7500 assinaturas verificadas e autenticadas e apresentam-se estatutos que não violem a Constituição portuguesa. O MAS teve problemas com este segundo ponto e pediu ajuda às pessoas que achassem que a Democracia estava a ser posta em causa pelo TC. Recebeu o apoio de várias figuras públicas e anónimas que quiseram ver o MAS a formalizar-se como partido mas que no seu interior se devem ter perguntado: mais um partido para quê? Mas apoiaram, e a Democracia até salvou a face.

 

Os partidos criam-se em torno de conteúdos ideológicos e de programas de acção, em lado nenhum está escrito que têm de apresentar ou acrescentar novidades e ideias ao debate. É desejável que o façam, claro, e neste aspecto tanto falha o LIVRE como o MAS. Uma das grandes divergências que o LIVRE apresenta em relação aos partidos que já existem é o funcionamento interno dos mesmos, e afirma querer fazer diferente. O Gil Garcia esqueceu-se que também o MAS faz este diagnóstico? As alternativas de funcionamento de um e de outro são diferentes, mas a do LIVRE, apesar de não me agradar, até é mais inovadora que a do MAS.

Às tantas o LIVRE tem pontos de contacto com o PCP, o BE, o PS e o MAS. E aqui se constata que o espectro tão abrangente que o LIVRE quer abraçar é tão demagógico e impraticável como os cartazes do MAS.

 

O Gil Garcia, e bem, está a prever um problema no seu horizonte: o tempo de antena à Esquerda que o MAS poderia ter por ser a novidade de próximas eleições e combates, será usurpado leoninamente pelo LIVRE. Desta forma e porque infelizmente o Rui tem mais meios e influência que o Gil, o crescimento do LIVRE será maior e mais facilitado do que o do MAS. Talvez seja melhor que o Rui tenha mais tempo de antena do que o Gil, é que se olharmos para os textos sobre a política nacional que o portal do MAS nos apresenta, o rácio entre os títulos e as palavras que se dirigem ao combate ao governo e à troika e os que se dirigem à crítica exaustiva da actuação de partidos de Esquerda e sindicatos é favorável aos segundos. Prioridades...

 

Num toque final de urbanismo ecológico, acho que uma coligação entre o PS, o MAS e o LIVRE dava um belo bouquet. Rosas, cravos e papoilas, um regalo para vista e para o nariz. Ainda bem que o girassol d'Os Verdes já escolheu outros amigos, senão a Esquerda portuguesa passava a ter mais pontos de contacto com um jardim do que com aqueles que trabalham para que esse jardim exista.

 

 

 

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publicado por swashbuckler às 12:34
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