Segunda-feira, 26 de Agosto de 2013

O A. e o P. casaram-se



Há uns dias o A. e o P., dois homens, casaram-se. Um com o outro, sim. A lei entrou em vigor em Janeiro de 2010, mas foi a primeira vez que tive o prazer de festejar o casamento de duas pessoas do mesmo sexo.

 

Primeiro era para ser apenas uma ida ao cartório seguida de um jantar familiar, mas depois de muitas conversas e ideias acabou por ser um serão num hotel central de Lisboa. Nada de épico e faustoso, sem centenas de convidados e sem milhares de aperitivos e cocktails. Uma cerimónia simples, com música cantada por alguns dos convidados e pelo A., e um jantar acompanhado pela família e uns quantos amigos mais próximos, aqueles que nos acompanham mesmo quando não estão presentes.

 

A família. Deve ser duro assumir estas coisas perante a família. Nas famílias do A. e do P. não sei se ao princípio alguém estranhou alguma coisa, mas naquele dia estava tudo entranhado e mais do que aceite e mais do que feliz. Desde o "sim" até ao bolo, cortado como manda a tradição pelas mãos dos noivos e regados a champanhe. Afinal a tradição ainda é o que era, só que o bolo, desta vez, tinha as cores do arco-íris a sustentar o abraço dos dois "noivos-bonecos" confeccionados para a ocasião.

 

 

O casamento não me diz muito. Como se costuma dizer, é, para mim, um papel. Provavelmente nunca me irei casar, bastam-me o amor e a paciência para saber que estamos juntos, mas...e os impostos? Os seguros em família...os descontos exclusivos para familiares directos... Uma vez, o P. esteve doente e o A. não podia ficar o dia todo com ele no Hospital, não eram casados...de certeza que eram só amigos, dois homens juntos não é ..."natural"...certo? E se um dia, eu ou ela, partimos uma perna (lagarto, lagarto, lagarto) e não temos direito a ficar o dia todo a dar mimos ao doentinho? Bem, nós somos um casal ..."natural", suponho que, mesmo sem papel, nos deixem ficar lá...

 

Caramba, na vida real um papel faz mesmo diferença. Parece-me que um dia vou ter de deixar a cabana de lado e assinar um, como toda a gente crescida faz. E se o casal for destes casais..."modernos", o papel ainda faz mais diferença.

 

Quando dois homens ou duas mulheres se casam, estão a celebrar o seu amor e a assumir perante a sociedade que estão juntos, mas estão também a exercer o direito ao casamento. Em Janeiro de 2010, em Portugal, todos os cidadãos ganharam o direito ao casamento - bom, ainda falta a possibilidade de casamentos poli-amorosos, mas essa luta ainda não vai ser ganha já, cheira-me... -.

Já em 2010 a perda de direitos tinha entrado em modo-cruzeiro, e só temos uma opção para mantermos os que ainda temos: exercê-los. O casamento está aí para ser celebrado, usado e abusado. Bem sei que 2010 foi só há três anos, mas numa sociedade em que os tiques de regresso ao tempo dos senhores feudais são mais do que evidentes, quais acham que serão os primeiros direitos sociais a ir à vida? É que estes novos senhores feudais, estes senhores neo-liberais, são muito liberais em muita coisa, menos nos costumes e nas "deformações" sexuais e comportamentais.

 

O A. e o P. casaram-se, eu estive lá e fiquei feliz por eles e com eles. Se pensar nos meus amigos e amigas e nos da minha companheira, temos para cima de muitos amigos(as) que vivem juntos(as). Exijo-lhes que se casem! Por agora ainda é um acto de coragem fazê-lo, quanto mais ele for praticado, menos coragem será necessária.

 

E durante várias horas daquele Sábado, um hotel do centro de Lisboa teve, no seu átrio, o anúncio de que o casamento entre o A. e o P. era ali. E garanto-vos, olhar para aquele papel público deu-me um gozo do caraças.

 

P.S. - vêm o que eu vos dizia sobre os tiques feudalistas?

 

 

 

 

publicado por swashbuckler às 20:16
link | comentar | favorito

.mais sobre mim


. ver perfil

. seguir perfil

. 3 seguidores

.pesquisar

.Agosto 2016

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30

.Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

.posts recentes

. Casas novas

. O Rei

. Diz o roto ao nú

. A quem serve o populismo?

. Um beijo de parabéns à UG...

. Portugal não é a Grécia e...

. 21 de Outubro: Orson Well...

. Decimatio

. Coincidências felizes

. Ah...a adolescência!

.arquivos

. Agosto 2016

. Janeiro 2014

. Novembro 2013

. Outubro 2013

. Setembro 2013

. Agosto 2013

. Julho 2013

. Junho 2013

. Janeiro 2013

. Abril 2012

. Fevereiro 2012

. Janeiro 2012

. Dezembro 2011

. Novembro 2011

. Outubro 2011

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

. Abril 2010

. Março 2010

. Fevereiro 2010

. Janeiro 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Outubro 2009

. Setembro 2009

. Agosto 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

. Maio 2009

. Abril 2009

. Março 2009

. Fevereiro 2009

. Janeiro 2009

. Dezembro 2008

. Novembro 2008

. Outubro 2008

. Setembro 2008

. Agosto 2008

. Julho 2008

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

.tags

. todas as tags

blogs SAPO

.subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub